A melhor forma de descrever Sir John Glubb é como “Lawrence da Arábia – só que mais esperto”.
John Bagot Glubb nasceu em 1897, seu pai sendo um oficial regular dos Engenheiros Reais [do Exército Inglês].
Ele entrou na Academia Militar Real em Woolwich em setembro de 1914, e serviu junto aos Engenheiros Reais em abril de 1915. Em 1920 ele se voluntariou para servir no Iraque, mas em 1926 renunciou à sua posição e foi aceito num posto administrativo do governo iraquiano.
Em 1930, porém, ele assinou um contrato para servir no Governo Transjordaniano (atualmente a Jordânia). De 1939 até 1956 ele comandou a famosa Legião Árabe da Jordânia, que na verdade era o próprio exército jordaniano. Ele transformou essa força local no mais eficiente exército árabe da região. Apesar disso, ele acabou renunciando ao cargo quando a Jordânia se tornou independente da Inglaterra.
Após se aposentar, publicou 17 livros, a maioria sobre o Oriente Médio, e deu várias palestras na Inglaterra, EUA e Europa.
Ele faleceu em 1986, em Mayfield, Inglaterra.
O Ensaio
No seu ensaio, John Glubb chegou à conclusão que todos os Impérios – todos, independente de sua tecnologia militar, religião, valores, comunicações ou meio de transporte – passa por seis fases:
1) Erupção – um povo nas margens de um antigo Império, normalmente morto de fome, com poucas armas ou meios, de repente emerge e conquista o Império anterior. Esse povo é marcado por seu empreendedorismo, força de vontade, dureza, e, sobretudo, agressividade. Por não serem limitados por nenhuma educação formal, regras ou tradições, eles estão sempre dispostos a improvisar para chegar ao seu objetivo final: a vitória sobre o antigo império.
2) Era das Conquistas – após adotar os recursos do antigo império (sejam eles tecnologias ou recursos materiais) o novo Império se expande, conquistando mais e mais territórios. Parece não haver limite para suas conquistas e vitórias. Eles próprios se sentem superiores aos outros povos, achando que seu sucesso é algo divino ou inerente a eles. A educação dos jovens é duríssima, disposta a transformar todos os garotos em futuros guerreiros para a nação – ou, como diríamos hoje, forçar todos, se não em espírito, pelo menos em capacidade física, a se tornarem "machos alfas".
3) Era do Comércio – agora o Império já está solidificado. Pouco a pouco, o foco dos mais jovens deixa de ser “honra e glória” para se tornar “ouro e lucro”. Ainda existe muito da antiga energia inicial dos fundadores para proteger o Império de qualquer outro povo que resolva se levantar, mas percebe-se que a educação e os objetivos saíram de “servir à Nação” para “servir o meu bolso”. A iniciativa e empreendedorismo deixam de ser bélicos, e se tornam mercantis.
4) Era da Abundância – essa fase representa o apogeu dessa sociedade. As riquezas do mundo parecem afluir a eles sem o menor esforço. Os mais ricos se veem com um problema: o que fazer com tanto dinheiro?
É aqui que, de fato, começa a ocorrer uma mudança na mentalidade desse povo:
– a educação deixa de ser tão pesada como era. Procura-se formar burocratas, comerciantes e executivos para os postos mais lucrativos, não mais soldados ou guerreiros.
– como existe mais dinheiro que coragem, procura-se comprar seus inimigos no lugar de lutar contra eles. Essa Era pode ser marcada pela entrada dos povos submetidos como soldados do Império.
– o uso da guerra para defender a nação é considerado “imoral e primitivo”; “não é que nós tenhamos medo de lutar, mas sim, nós somos civilizados demais para lutar” é o pensamento dominante.
– imigrantes de toda a parte do Império afluem para as suas maiores cidades, em busca de riqueza e de uma vida melhor, de certa forma “diluindo” a mentalidade original que formou o Império.
O autor nos diz que, por mais lealdade que tais imigrantes tenham ao Império, eles nunca estarão tão dispostos a colocar suas vidas e sua riqueza na reta para defendê-lo. Sem falar que sua presença acaba influenciando nas decisões dos líderes do império.
– um “monumento” que marca essa Era é o Muro – para evitar o ataque de bárbaros, ou, como é atualmente, a entrada de estrangeiros ilegais. A nação saiu do ataque para a defesa, se tornou passiva.
5) Era do Intelectualismo – o começo do Fim
“Os barões da indústria e do comércio procuram fama e admiração, não somente ao se tornarem mecenas de obras de arte, música ou literatura. Eles também fundam e doam dinheiro para faculdades e universidades.
(…)
A ambição dos jovens, antes dedicada à obtenção de aventura e glória militar, e que depois se dirigiu para o acúmulo de riquezas, agora se volta para a aquisição de honras acadêmicas.”
Tem-se a impressão de que o Intelecto pode resolver todos os problemas – porém, quando chega a hora de agir, a nação e os diversos partidos e ideologias se envolvem numa discussão sem fim, e nada é feito. Visto de fora, o Império parece viver numa Era Dourada.
– mas, por dentro, ele está apodrecido.
6) Era da Decadência – o Império, quando está pronto para cair, é marcado por:
– Pessimismo.
– Materialismo.
– Frivolidade: o ídolo das multidões não é mais o general, o herói ou o santo: é o músico, o ator, ou o atleta.
– Relaxamento dos costumes e perda da moral: uma linguagem e comportamento mais chulo, normalmente divulgado pelos cantores “pop” de cada época, se torna comum entre o povo.
– a criação de um Estado de bem-estar social (ou assistencialista).
– generosidade para com todos os povos (distribuição de cidadania, criação de universidades e hospitais públicos por todo o Império etc).
– o surgimento de alguma forma de feminismo. ("O aspecto do seu rosto testifica contra eles; e publicam os seus pecados, como Sodoma; não os dissimulam. Ai da sua alma! Porque fazem mal a si mesmos. Dizei ao justo que bem lhe irá; porque comerão do fruto das suas obras. Ai do ímpio! Mal lhe irá; porque se lhe fará o que as suas mãos fizeram. Os opressores do meu povo são crianças, e mulheres dominam sobre ele [*]; ah, povo meu! Os que te guiam te enganam, e destroem o caminho das tuas veredas." Isaías 3:9-12)
Nessa fase, é somente questão de tempo para que alguma nova raça surja e arrebata as riquezas, território, e cultura do antigo Império.
Essa é a fase em que estamos (mesmo que não estejamos no centro do “Império”).
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Um exemplo: O Império Árabe
Vale a pena reproduzir a análise do autor sobre a fase da Decadência do Império Árabe, 11 séculos atrás:
“Na primeira metade do século IX, Bagdá desfrutou do seu apogeu como a maior e mais rica cidade do mundo. (…)
Os trabalhos dos historiadores daquela época ainda estão disponíveis. Eles deploravam profundamente a degeneração dos tempos em que viveram, enfatizando principalmente a indiferença em relação à religião, o materialismo crescente e a frouxidão da moral.
Também lamentaram a corrupção dos oficiais do governo, e o fato de que os políticos pareciam sempre acumular grandes fortunas quando estavam no poder.
Eles comentaram amargamente sobre a extraordinária influência que os cantores populares tinham sobre as massas, principalmente as mais jovens, o que levou a um declínio moral.
Os cantores ‘pop’ de Bagdá daquela época acompanhavam suas canções eróticas com o alaúde, um instrumento que lembra o moderno violão. Na segunda metade do século X, como resultado, muita linguagem sexual e obscena se tornou de uso comum, tal que não seria tolerada tempos atrás. Muitos califas assinaram ordens banindo esses cantores ‘pop’, mas poucos anos depois eles retornavam.
Um aumento na influência das mulheres nos negócios públicos também é associado com o declínio da nação. (…) No século X, uma tendência parecida foi observada no Império Árabe, com mulheres exigindo admissão em profissões antes reservadas somente aos homens. Ibn Bessam, um dos historiadores daquela época, escreveu: “O que as profissões de escriturário, coletor de taxas ou pregador têm a ver com as mulheres? Tais ocupações foram sempre limitadas aos homens.” Muitas mulheres estudaram as leis, enquanto outras conseguiram postos de professoras universitárias.
Logo após esse período, o governo e a ordem pública entraram em colapso, e invasores estrangeiros tomaram o país. O aumento na violência e confusão tornou perigoso para as mulheres andarem desacompanhadas na rua, o que levou esse movimento ao colapso. (…) Quando eu li essa descrição da Bagdá do século X, eu mal podia acreditar nos meus olhos.
Disse pra mim mesmo: “só pode ser uma piada!” Essa descrição podia ter saído do Times [jornal inglês] de hoje. A semelhança nos detalhes era especialmente inacreditável – o declínio do Império, o abandono da moral, cantores ‘pop’ com seus alaúdes (ou guitarras), a invasão das mulheres no mercado de trabalho, a semana de cinco dias úteis.”
Preciso comentar algo mais?
Assim, John Glubb calculou o ciclo de vida dos impérios em aproximadamente 250 anos, ou dez gerações, como o gráfico abaixo mostra:
Outro detalhe: ele mostrou que a queda dos Impérios varia imensamente, dependendo das forças externas a ele, dos grupos de pressão a volta de Império.
Alguns continuaram existindo após o final do seu ciclo de vida, mas em estado quase permanente de guerra civil e arruaça (como o Romano do Ocidente); e outros, simplesmente tiveram uma troca de cadeiras de um mestre para o outro, como o Império Mameluco do Egito.
Minha impressão é de que o Império Norte-Americano acabará devido à estagnação econômica e financeira, se mantendo como nação soberana, mas perdendo gradualmente sua influência e poder no mundo. Um final triste, digno de um doente terminal, por décadas vivendo em estado vegetativo.
Existem vários pontos nesse estudo de Glubb Paxá que podem nos ajudar, principalmente a entender os tempos atuais, e nos prepararmos para sobreviver à inevitável queda do Império dos EUA.
Vejo três pontos principais:
1) A ERA DA DECADÊNCIA É GLOBAL
Nem preciso mais bater nesse ponto – todos nós sabemos que estamos numa fase de decadência. A grande diferença em relação a todos os impérios do passado é que essa decadência é GLOBAL.
A grande sabedoria do Império Norte-Americano foi, após ter estabelecido suas fronteiras, ter percebido a futilidade de ter domínios ultramarinos. No lugar de buscar subjugar todos os povos do mundo, ele simplesmente moveu as peças nas diversas nações para que seus líderes fossem favoráveis a ele sem o necessário desgaste de uma ocupação armada. O Plano Marshall foi mais eficiente para tornar a Europa pró-EUA e capitalista que qualquer divisão do General Patton.
Fora a Europa Ocidental, os grandes aliados/adversários amigáveis dos EUA são:
– a Coreia do Sul
– o Japão
Porém, tirando a Coreia do Sul, todos esses outros países estão passando por crises:
– a Europa Ocidental passa por uma crise financeira iniciada nos EUA, mas longe de acabar;
– o Japão se dirige a um “harakiri populacional”, com menos e menos jovens dispostos a pagar o “preço” para se casarem com uma mulher japonesa; e, ao mesmo tempo não sabendo desarmar o extremo preconceito contra o estabelecimento de estrangeiros, mesmo que da mesma etnia que eles. Prevê-se que, no próximo século, o número de japoneses irá cair pela metade, e em 1.000 anos, se extingüirá a raça japonesa.
Gráfico da Univ. de Tohoku mostrando o número de nascimentos no Japão nos próximos 1.000 anos.
Ou seja, quase todas as nações que desfrutaram diretamente da prosperidade do império norte-americano se encontram envolvidas em problemas econômicos e populacionais os quais não conseguem solucionar.
Um detalhe que esqueci de colocar no texto é: se seguirmos a regra dos 250 anos do autor, e contarmos o início do Império Americano como sendo o ano 1776 (ano da Independência dos EUA), chegaremos ao último ano como: 1776 + 250 = 2026.
2) O FEMINISMO É CONSEQUÊNCIA, NÃO CAUSA DA DECADÊNCIA
Como mostrado por sir John Glubb, o feminismo somente surge na fase final da vida de um Império, quando os seus cidadãos se encontram fracos demais para se opor a ele. É quase como se, devido à fraqueza dos homens nativos desse país, as mulheres resolvessem ocupar o espaço – uma última tentativa desesperada de colocar ordem no barco antes do colapso final. (Feminismo é agravante e não uma tentativa de salvação)
Em todos os exemplos do passado, quando um povo se tornava fraco demais para defender o próprio território, outro povo mais viril e duro se erguia e tomava tudo – impondo seus costumes e leis ao antigo Império.
Num Império globalizado, quais são os povos com força e vontade, e principalmente virilidade, para tomarem o lugar da nação decadente?
Permitam-me um exercício de futurologia (Parece que o autor do exercício ignora os personagens nos bastidores da História, como se tudo acontecesse ao acaso):
Na Europa
– a Rússia: enquanto ela continuar nas mãos de um governante forte, e o povo russo não perder as suas características de auto-sacrifício, senso do dever e perseverança, ela poderá ser a nova Senhora da Europa.
Não acreditem nesses relatos que dizem que a Rússia está totalmente marginizada; isso só aconteceu nos grandes centros ocidentalizados, como Moscou e São Petersburgo.
– o Islã: já estamos cheios de ler relatos sobre jovens muçulmanos tentando implementar a sharia em seus bairros, na Europa. De como o número de estupros na Suécia aumenta – sempre envolvendo imigrantes que não se adequam, e nem querem se adequar, à cultura do país que os recebeu.
Altas taxas de natalidade, mais subsídios do governo, mais crise econômica e falta de empregos, e ainda mais uma cultura impermeável às influências externas, resulta numa bomba-relógio pronta para explodir. E os europeus ignoram o problema… Quanto tempo até a situação sair finalmente do controle?
Na Ásia:
– a China: Preciso explicar alguma coisa?
Fora essas nações, ainda temos, como potências regionais, a Índia, a África do Sul e nós mesmos, na América Latina. Cada um desses países poderá mudar sua “lealdade” a uma das novas superpotências que surgirão dependendo dos seus objetivos no futuro.
De qualquer forma, seria muito bom se os europeus e norte-americanos se preparassem para o futuro que os ameaça… da mesma forma que nós devemos nos preparar.
3) TEMOS QUE REUNIR AS MELHORES CARACTERÍSTICAS DE CADA ERA SE QUISERMOS SOBREVIVER E PROSPERAR
No seu ensaio, John Glubb fala: “O sentimento de dever e de iniciativa não poderiam ser cultivados em paralelo com o desenvolvimento intelectual e as descobertas da ciência?”
Nós sabemos muito bem que, como uma sociedade, trazer de volta os “bons e velhos tempos” é impossível. Fazer com que a educação da garotada seja novamente rígida, que a moral e os costumes voltem aos anos 50 é inadmissível para a maioria das pessoas – principalmente na sede do Império.
Depois de algumas décadas de liberdade que virou libertinagem, alguém realmente acredita que a sociedade, como um todo, aceitará esse “retrocesso”? Se algum dos confrades acredita nisso, tenho péssimas notícias…
Resta somente a nós atingirmos esse ideal que Glubb sustenta ser a saída para os impérios decadentes. E, de certa forma, eu sinto que vários confrades já fazem isso:
– manter a honra pessoal e o senso de dever para com suas famílias e amigos;
– buscar o desenvolvimento pessoal em vários campos: físico, intelectual, talvez até no religioso;
– muitos de nós são empreendedores ou buscam a saída mais pragmática e segura para esses tempos de decadência e insegurança econômica. Mas, independente do caminho escolhido – conseguir a independência financeira e a prosperidade.
“A decadência é da sociedade, não do indivíduo” (começa no indivíduo e se replica). Ele relata sobre cidadãos do Império que, emigrando para outros países, logo fugiram do sentimento de derrota e pessimismo de suas nações, e se tornaram iguais ou melhores do que os nativos.
A diferença é que, como o Império é globalizado, é de pouco efeito trocarmos um país por outro; com exceção dos poucos que ainda mantém uma atitude viril (Rússia, China e o Islã) para onde formos encontraremos os mesmos problemas, em graus variados. Sem falar que os três países citados possuem uma cultura muitíssimo diferente da nossa…
O jeito, enquanto o Império não decai completamente, é mantermos nosso comprometimento conosco e com nossos ideais. Aumentarmos nossas vitórias em todos os campos do nosso desenvolvimento pessoal: o físico, o econômico, o intelectual e o de caráter. E assim evitarmos que o pessimismo e a decadência que tomará conta da sociedade se reflita em nós mesmos.
E por que não seríamos vitoriosos? Afinal, se a decadência está globalizada e internacionalizada, a resistência a ela também está.
Fontes: https://naturezafeminina.files.wordpress.com/2017/06/guerra-method.pdf, págs. 199 até 204, e http://refletren.blogspot.com.br/2015/11/o-destino-dos-imperios.html
[*] "Desde o século passado, o crescimento sem precedentes no orçamento dos governos ocidentais mudou radicalmente a dinâmica de gênero. Essa expansão do governo foi causada pelo direito de voto das mulheres e pelos padrões de votação subsequentes das mulheres. A resultante multiplicação dos serviços públicos substituiu progressivamente o papel tradicional dos homens, que aliviou a complementaridade e a interdependência entre homens e mulheres a nível individual. No entanto, os homens são, como um grupo, os únicos fornecedores de dinheiro dos impostos." Continue lendo:
https://nkilsdonkgervais.wordpress.com/2017/05/04/when-men-pay-taxes-women-become-promiscuous/
O esquema: existe a atual sociedade (tese) que é confrontada com o relativismo da moral, dos fatos, dos valores e da verdade (antítese); nesse embate surge uma nova mentalidade (nova não é sinônimo de melhor), nova visão das mesmas coisas, gerando uma nova ou outra sociedade (síntese). Ordo ab chao.
Não existe Civilização sem base na Verdade. E o relativismo (da moral, da verdade ...), é o primeiro passo para a degeneração, decadência e queda de indivíduos, de povos, nações ou impérios.
Abraços
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