"O mundo judeu conserva-se isolado, compacto, inacessível e impenetrável."
Eça de Queirós
José Maria de Eça de Queirós (Póvoa de Varzim/Portugal, 25 de novembro de 1845 - Paris/França, 16 de agosto de 1900) é um dos mais importantes escritores lusos. Foi autor, entre outros romances de reconhecida importância, de Os Maias e O crime do Padre Amaro; este último é considerado por muitos o melhor romance realista português do século XIX.
A alta finança e o pequeno commercio estão-lhe igualmente nas mãos: é o judeu que empresta aos Estados e aos principes, e é a elle que o pequeno proprietario hypoteca as terras. Nas profissões liberais absorve tudo: é elle o advogado com mais causas e o medico com mais clientella: se na mesma rua ha dois tendeiros, um allemão e outro judeu—o filho da Germania ao fim do anno está fallido, o filho d'Israel tem carruagem! Isto tornou-se mais frizante depois da guerra: e o bom allemão não póde tolerar este espectaculo do judeu engordando, enriquecendo, reluzindo, emquanto elle, carregado de louros, tem de emigrar para a America á busca de pão.
Mas se a riqueza do judeu o irrita, a ostentação que o judeu faz da sua riqueza enlouquece-o de furor. E, n'este ponto, devo dizer que o allemão tem razão. A antiga legenda do israelita, magro, esguio, adunco, caminhando cosido com a parede, e coando por entre as palpebras um olhar turvo e desconfiado—pertence ao passado. O judeu hoje é um gordo. Traz a cabeça alta, tem a pança ostentosa e enche a rua. É necessario vêl-os em Londres, em Berlim, ou em Vienna: nas menores cousas, entrando em um café ou occupando uma cadeira no theatro, têm um ar arrogante e ricaço, que escandalisa. A sua pompa espectaculosa de Salomões parvenús offende o nosso gosto contemporaneo, que é sobrio. Fallam sempre alto, como em paiz vencido, e em um restaurante de Londres ou de Berlim nada ha mais intoleravel que a gralhada semitica. Cobrem-se de joias, todos os arreios das carruagens são de oiro, e amam o luxo grosseiro e vistoso. Tudo isto irrita.
Mas o peior ainda, na Allemanha, é o habil plano com que fortificam a sua prosperidade e garantem a sua influencia—plano tão habil que tem um sabor de conspiração: na Allemanha, o judeu, lentamente, surdamente, tem-se apoderado das duas grandes forças sociaes—a Bolsa e Imprensa. Quasi todas as grandes casas bancarias da Allemanha, quasi todos os grandes jornaes, estão na posse do semita. Assim, torna-se inatacavel. De modo que não só expulsa o allemão das profissões liberais, o humilha com a sua opulencia rutilante, e o traz dependente pelo capital; mas, injuria suprema, pela voz dos seus jornaes, ordena-lhe o que ha-de fazer, o que ha-de pensar, como se ha-de governar e com que se ha-de bater!
Tudo isto ainda seria supportavel se o judeu se fundisse com a raça indigena. Mas não. O mundo judeu conserva-se isolado, compacto, inacessivel e impenetravel. As muralhas formidaveis do templo de Salomão, que fôram arrasadas, continuam a pôr em torno d'elle um obstaculo de cidadelas. Dentro de Berlim ha uma verdadeira Jerusalem inexpugnavel: ahi se refugiam com o seu Deus, o seu livro, os seus costumes, o seu Sabbath, a sua lingua, o seu orgulho, a sua seccura, gosando o ouro e desprezando o christão. Invadem a sociedade allemã, querem lá brilhar e dominar, mas não permittem que o allemão meta sequer o bico do sapato dentro da sociedade judaica. Só casam entre si; entre si, ajudam-se regiamente, dando-se uns aos outros milhões—mas não favoreceriam com um troco um allemão esfomeado; e põem um orgulho, um coquetismo insolente em se differençar do resto da nação em tudo, desde a maneira de pensar até á maneira de vestir. Naturalmente, um exclusivismo tão accentuado é interpretado como hostilidade—e pago com odio.
Tudo isto, no emtanto, é a lucta pela existencia. O judeu é o mais forte, o judeu triumpha. O dever do allemão seria exercer o musculo, aguçar o intellecto, esforçar-se, puxar-se para a frente para ser, por seu turno, o mais forte. Não o faz: em logar d'isso, volta-se miseravelmente, covardemente, para o governo e peticiona, em grandes rolos de papel, que seja expulso o judeu dos direitos civis, porque o judeu é rico, e porque o judeu é forte.
O Governo, esse esfrega as mãos, radiante. Os jornaes inglezes não comprehendem a attitude do sr. de Bismarck, approvando tacitamente o movimento anti-judaico. É facil de perceber; é um rasgo de genio do chanceller. Ou pelo menos uma prova de que lê com proveito a Historia da Allemanha.
Na meia idade, todas as vezes que o excesso dos males publicos, a peste ou a fome, desesperava as populações; todas as vezes que o homem escravisado, esmagado e explorado, mostrava signaes de revolta, a egreja e o principe apressavam-se a dizer-lhe: «Bem vemos, tu soffres! Mas a culpa é tua. É que o judeu matou Nosso Senhor e tu ainda não castigaste sufficientemente o judeu.» A populaça então atirava-se aos judeus: degolava, assava, esquartejava, fazia-se uma grande orgia de supplicios; depois, saciada, a turba reentrava na tréva da sua miseria a esperar a recompensa do Senhor.
Isto nunca falhava. Sempre que a egreja, que a feudalidade, se sentia ameaçada por uma plébe desesperada de canga dolorosa—desviava o golpe de si e dirigia-o contra o judeu.
Quando a besta popular mostrava sêde de sangue—servia-se á canalha sangue israelita.
É justamente o que faz, em proporções civilizadas, o sr. de Bismarck. A Allemanha soffre e murmura: a prolongada crise commercial, as más colheitas, o excesso de impostos, o pesado serviço militar, a decadencia industrial, tudo isto traz a classe media irritada. O povo, que soffre mais, tem ao menos a esperança socialista; mas os conservadores começam a vêr que os seus males vêm dos seus idolos.
Para o calmar e occupar, o que mais serviria ao chanceller seria uma guerra, mas nem sempre se póde inventar uma guerra, e começa a ser grave encontrar em campo a França preparada, mais forte que nunca, com os seus dois milhões de bons soldados, a sua fabulosa riqueza, riqueza inconcebivel, que, como dizia ha dias a Saturday Review, é um phenomeno inquietador e difficil d'explicar.
Portanto, á falta d'uma guerra, o principe de Bismarck distrahe a attenção do allemão esfomeado—apontando-lhe para o judeu enriquecido. Não allude naturalmente á morte de Nosso Senhor Jesus Christo. Mas falla nos milhões do judeu e no poder da Synagoga. E assim se explica a estranha e desastrosa declaração do governo.»
Eça de Queiros, "Cartas de Inglaterra", Livraria Chardron De Lello e Irmão - Editores, Porto, 1905.
Este texto jornalístico de Eça comenta uma declaração do Governo Bismarck, segunda a qual o Governo Alemão afirmava não estar nas suas perspectivas retirar quaisquer direitos à população judaica.
Fonte: http://historiamaximus.blogspot.com.br/2012/11/os-judeus-vistos-por-eca-de-queiros-em.html
Corroborando quase como um plágio com escritor luso acima, Sir Arthur Wynne Morgan Bryant, historiador britânico muito popular, várias décadas depois escreve o livro Unfinished Victory 1940 (1940 - Vitória Incompleta), onde nas págs. 136-144 descreve o poder judaico na Alemanha entre as duas Guerras Mundiais:
Sir Arthur Wynne Morgan Bryant (Dersingham/Inglaterra, 18 de fevereiro de 1899 - Wiltshire/Inglaterra, 22 de janeiro 1985), foi um historiador inglês e colunista do Illustrated London News.
"Foram os judeus com as suas ligações internacionais e o seu talento hereditário para a finança que melhor foram capazes de aproveitar estas oportunidades. Fizeram-no com tal sucesso que, mesmo em Novembro de 1938, depois de cinco anos de legislação antissemita e perseguição, eram ainda donos, segundo o correspondente da Times em Berlim, de qualquer coisa como um terço da propriedade imobiliária do Reich. A maior parte dela caiu-lhes nas mãos durante a inflação. Mas para aqueles que perderam tudo, esta desconcertante transferência pareceu uma monstruosa injustiça. Depois de prolongados sofrimentos tinham agora ficado privados dos seus bens.
Viram-nos passar para as mãos de estranhos, muitos dos quais não tinham partilhado os seus sacrifícios e pouco ou nada se importavam com a bandeira e tradições nacionais. Os judeus obtiveram uma formidável ascendência na política, nos negócios e nas profissões acadêmicas, não obstante constituírem menos de um por cento da população.”
“Os bancos, incluindo o Reichsbank (Banco Central Alemão) e os grandes bancos privados, eram praticamente controlados por eles. Assim como o negócio das editoras, o cinema, os teatros e grande parte da imprensa, de fato, todos os meios que formam a opinião pública num país civilizado. O maior jornal do país com uma circulação diária de quatro milhões de unidades era um monopólio judeu. De ano para ano era cada vez mais difícil a um gentio (não-judeu) aceder ou manter-se nalguma profissão privilegiada. Nesta altura não eram os ‘Arianos’ que praticavam discriminação racial. Era uma discriminação que funcionava sem violência. Era exercida por uma minoria contra uma maioria. Não havia perseguição, apenas eliminação. Era o contraste entre a riqueza desfrutada e faustosamente ostentada por estranhos de gostos cosmopolitas, e a pobreza e a miséria dos alemães nativos, que tornou o antissemitismo tão perigoso e uma força ameaçadora na nova Europa. Pedintes montados a cavalo são raramente populares, e menos ainda aqueles que acabaram do vos deitar abaixo da sela.”
Fonte: http://blogtriplov1.wordpress.com/2014/01/09/o-misterioso-e-prolongado-sucesso-da-minoria-judaica-na-alemanha/
Bernard Lazare (15 de junho de 1865, Nîmes/França - 1º de setembro de 1903, Paris/França) foi um escritor de religião judaica, politicamente era um anarquista. Foi o primeiro dos defensores de Alfred Dreyfus, no caso Dreyfus, durante o qual publicou 3 brochuras. No final da vida tornou-se um adepto do Sionismo, ao qual consagrou as suas últimas escritas. Foi amigo de Theodor Herzl, mas com o qual teve divergências.
"Se a desconfiança e a hostilidade contra os judeus tivesse surgido somente num único país e só numa determinada época, seria fácil identificar as razões dessa aversão. Mas, ao contrário, essa raça é, desde há muito tempo, antipatizada pelos habitantes de todas as terras e nações no seio das quais se estabeleceu. Como os inimigos dos judeus existiram entre os mais diversos povos, os quais habitavam regiões distantes entre si e eram regidos até por leis determinadas por princípios opostos e se não tinham os mesmos costumes, e eram distintos no espírito de suas culturas, então as causas do anti-semitismo devem ser procuradas entre os próprios judeus, e não entre os seus antagonistas."
Bernard Lazare anarquista judeu em "Antisémitisme, son histoire et ses causes", Paris 1934, Tomo I pág. 32.
Abraços
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