“Minha bandeira nunca será vermelha!”, será? Na verdade, etimologicamente a cor vermelha teria muito mais sentido.
Por Minerva, no Voyager
Como a família real, o gosto pelo velho e a falsa simbologia moldaram as cores nacionais. Bônus: seria o Brasil a mítica ilha celta no Oceano Atlântico?
Se te perguntarem quais são as cores nacionais brasileiras, você certamente teria a resposta na ponta da língua: verde, amarelo e azul. E, muito provavelmente, você, assim como eu, aprendeu na escola o que estas cores significam: o verde representa as florestas, a flora brasileira; o amarelo representa o ouro e as riquezas naturais; já o azul representa o nosso céu.
Esta bonita simbologia nos cativa e nos faz ter orgulho das nossas cores, que supostamente representam tão bem o nosso país… Nesse apego aos símbolos nacionais, você já deve também ter ouvido também, daquele amigo mais
“patriota”, o poderoso bordão
: “minha bandeira jamais será vermelha!” Um grito afirmativo, de que as cores nacionais jamais seriam usurpadas de sua importância pela cor
“comunista”.
Contudo, será que a cor vermelha seria uma afronta assim tão grave à identidade do nosso país? Vamos descobrir tentando saber um pouco mais sobre a origem da palavra Brasil e de sua bandeira.
Desde bem cedo em nossa vida escolar nos deparamos com essa pergunta: por que o Brasil recebeu este nome? Novamente, tínhamos a resposta fácil!: por causa do pau-brasil
(1), uma das primeiras riquezas naturais a serem extraídas pelos portugueses. Tá, mas e esse termo pau-brasil, qual a origem etimológica da palavra
“brasil” afinal? Se pesquisarmos sobre sua origem, chegaremos a duas influências distintas: o Latim e o Celta.
A origem Celta (e vermelha) da palavra Brasil
A Ilha de Hy-Brasil aparece em mapas cartográficos desde 1325 até meados dos anos 1800. Na maior parte dos mapas, a Ilha aparece na costa oeste da Irlanda, no Norte Atlântico.
Os contos e lendas sobre
Hy-Brasil circularam pela Europa por séculos, tendo a Ilha aparecido em mapas, cartas e documentos de países como Itália e Espanha, sob nomes como
Isola di Brasil e
Isla de Brasil, chegando a ser documentada inclusive em Atlas e documentos mercantes já nos anos 1500s.
As expedições que “afirmavam” ter visitado a Ilha (o mais curioso é que esses caras ou realmente chegaram nesta Terra lendária ou sabiam mentir bem e em conjunto, pois os relatos costumavam confirmar vários outros!), relataram-na sendo habitada por gigantes coelhos negros, monges de sabedoria milenar, um mago que vivia sozinho em seu castelo, abundância de ouro e prata e também a presença de outras criaturas lendárias. Hy-Brasil foi até mesmo apelidada de
“Atlantis Irlandesa”.
Ao final dos anos 1800s, Hy-Brasil passou a aparecer cada vez menor nos mapas, até se tornar apenas um “pontinho” chamado Rocha de Brasil e, por fim, desapareceu por completo das cartas oficiais e passou ao mundo das lendas definitivamente.
Hy-Brasil significa
“descendentes dos reis supremos” em celta, e, apesar de sua história parecer um pouco com os primeiros relatos sobre o Brasil no seu descobrimento, não há nenhuma ligação linguística entre o Brasil celta e o Brasil em latim.
Em latim, Brasil significa: vermelho como brasa ou vermelho das brasas.
As cores da nossa bandeira são de origem monárquica
O fato é que mesmo se nossa bandeira fosse vermelha, ela ainda poderia representar o Brasil e a nós brasileiros, mais até do que as cores verde, amarelo e azul, até porque estas cores nunca representaram o que sempre nos foi dito que representavam: na verdade, o verde louro representa a cor da família real Portuguesa (Casa de Bragança) e o amarelo-ouro representa a cor da nobreza austríaca (Casa de Habsburgo), que formavam o Brasil Império pelo casa mento de Dom Pedro I e Maria Leopoldina.
A bandeira do Brasil Império, criada (e costurada a mão!) pelo próprio D. Pedro I, trazia no centro o brasão verde, amarelo e azul, desenhado pelo francês Jean-Baptiste Debret. Nem mesmo o posicionamento e o formato dos elementos da bandeira diziam respeito ao Brasil: o losango amarelo foi referência às bandeiras militares francesas, sutil homenagem de D. Pedro I a Napoleão Bonaparte, a quem ele muito admirava e havia tornado parente distante quando de seu casamento com Leopoldina.
Após a queda do Império, diversas propostas para a nova bandeira da República foram apresentadas, tentando deixar para trás tudo que nos ligasse ainda ao Império e à Portugal. Por fim optou-se em manter o retângulo verde louro e o losango amarelo, trocando o brasão imperial pelo círculo estrelado e incluindo o lema
(maçom e anticristão) positivista
“Ordem e Progresso”. As cores foram mantidas, porém tiveram sua simbologia “romantizada”, num esforço de dar ares novos ao que era velho, que remetia ao nosso passado monárquico.
O maior símbolo da República já começara não representando a identidade brasileira. Apesar do nome Brasil (vermelho por natureza e origem), sua bandeira permaneceu verde e amarela.
Flores do pau-brasil (Caesalpinia echinata).
Fonte: http://www.jacarandamimoso.com.br/2012/08/pau-brasil-madeira-e-resina-uma-patria.html
Conclusão
A cor vermelha, quando aplicada em bandeiras, está longe de representar apenas o socialismo ou o comunismo, ela também é a cor adotada por 148 países no mundo para representar valor, honra, batalhas, luta, revolução, flores, Sol, terra/solo e dezenas de outros significados. Fosse exclusividade comunista, o vermelho não apareceria nas bandeiras de países como a Alemanha, os EUA, o Reino Unido…
Portanto, apesar do medo irracional que a cor vermelha desperta em muita gente, fosse nossa bandeira brasileira vermelha como sangue, ainda assim, poderia ser uma melhor representação do nosso povo, origem, história, cultura e identidade até melhor do que o trio “canarinho”, além de definitivamente possuir mais sentido.
(Re)conhecer a história da nossa bandeira e das suas cores, sabendo o que elas realmente significam, já é um importante passo para aprender mais sobre a nossa história e abandonar bordões simplistas e preconceituosos no lugar onde eles deveriam ficar, sem jamais terem saído: o passado.
Fonte:
http://www.marchaverde.com.br/2016/12/minha-bandeira-nunca-sera-vermelha-sera.html
(1) A árvore Pau-Brasil era conhecida pelos índios tupis de Ibirapitanga: ïbi'rá ("pau") e pi'tãga ("vermelho").
FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. pág. 153.
Malou von Muralt. (novembro 2006). "A árvore que se tornou país". Revista da USP (71). ISSN 0103-9989.
Leia também "Terra de Santa Cruz ou Brasil?":
https://desatracado.blogspot.com.br/2013/11/terra-de-santa-cruz-ou-brasil.html
No dia 3 de maio comemora-se o Dia Nacional do Pau-brasil.
Abraços